3x4: Médicos cubanos atuando no Brasil

SOBRE A IMPORTAÇÃO DE MÉDICOS CUBANOS:

opinião: Evilane Lima, estudante de medicina - UniBH

"O governo quer contratar médicos do exterior? Que contrate! Mas contrate profissionais que sejam capazes de revalidar seu diploma e de aprender o idioma que nós falamos para atender de forma decente os pacientes".

    Tenho observado vários pontos de vista a respeito do assunto, cada dia uma novidade. Quero deixar claro que a defesa aqui, não é em nome da classe médica, mas da população que não tem alternativa senão o SUS. Esses cidadãos, que já foram privados de educação, trabalho... é que serão atendidos por profissionais com pouco conhecimento, falantes de uma língua que eles mal compreendem, e que também terão seu trabalho limitado pela falta de recursos do Sistema. 

     Nunca fui anti-petista, mas essa medida, em minha opinião, não passa de uma atitude desesperada do Governo Federal pra tentar mostrar à população algum trabalho, pois nada fez nos últimos anos. Uma atitude que tenta enganar a população, desviar o foco de outros problemas graves de responsabilidade pública, apontar os médicos brasileiros como culpados pela falência do SUS e colocar o Governo Federal na posição de "salvador".
E não quero nem tocar no ponto da relação política entre Brasil e Cuba, apenas lembrar que as eleições para presidência do Brasil estão chegando, e é esse o objetivo do Governo.

1. Revalidação do diploma

É de conhecimento geral que esses profissionais não terão que revalidar seu diploma, devido ao grande índice de reprovação do Revalida. 
Se muitos são descrentes da formação oferecidas nas universidades brasileiras, com currículo e estrutura aprovados pelo MEC, o que esperam sinceramente, de profissionais cuja formação é absolutamente desconhecida e incapaz de realizar uma prova de conhecimentos específicos da medicina?

2. A língua oficial de Cuba é o ESPANHOL.

Se os profissionais não são obrigados a revalidar seu diploma, aprender o PORTUGUÊS tornou-se absolutamente dispensável nesses casos. Então todo mundo agora, de uma hora pra outra, “habla muy bien el español”, certo? Ou vai todo mundo praticar o “portunhol”?
E como será a vida da população que não teve acesso à educação (palmas para o poder público) e usa um vocabulário cheio de regionalismos, porque é essa a forma de comunicação que eles aprenderam?

Pensem, por exemplo, num cidadão do interior de Minas, morador de zona rural, que vai se consultar com um cubano:
"qué sientes?" -"Nó dotô, tô cuma dô danada na cacunda faiz madimês"
Quem entendeu quem? Como esse médico vai ser capaz de ajudar a aliviar um problema que ele não consegue compreender?

3. Mais médicos e pouca estrutura

     Aumenta-se o número de médicos, mas a infraestrutura do Sistema Único de Saúde não é modificada. O que um médico brasileiro pode fazer se no hospital em que trabalha que não existem macas, se não há vagas na Terapia Intensiva? NADA! Vai tentar ajudar o paciente da melhor forma possível, mas ele não tem poder de resolver esse problema estrutural.
E o que pode fazer um médico cubano? Nada também! A menos que eles tragam consigo macas, medicações, instrumental, etc.

4. Por que médicos brasileiros não querem ir para regiões mais pobres?

    Talvez porque nesses locais a estabilidade do cargo está diretamente relacionada com o partido político que está no poder. Talvez porque a estrutura seja tão ínfima que o médico terá que praticar algo muito próximo do curandeirismo amador para tentar ajudar seus pacientes. Talvez porque nenhum deles quer ver seus pacientes evoluírem mal, muitas vezes chegando ao óbito, por falta de material básico para o diagnóstico e tratamento. Talvez isso dificulte um pouquinho a contratação de profissionais para essa região.

5. Mau atendimento dos profissionais 

"Os médicos do SUS tratam a população muito mal, tem que trazer gente de fora mesmo pra cuidar direito da gente!"

   Todo profissional insatisfeito com suas condições de trabalho tende a ser menos tolerante, não digo que isso é o correto, mas isso acontece em todas as profissões, porque são todos seres humanos. E ainda que estivessem satisfeitos, vale lembrar que arrogância, falta de humildade e de respeito não são ensinadas em nenhuma escola médica brasileira. Isso não se aprende na faculdade, isso depende da formação humana de cada indivíduo, e gente de coração ruim tem em todas as profissões e lugares do mundo.

6. Erros médico

"Então os médicos brasileiros são santos e perfeitos?"

NÃO! São humanos apenas, suscetíveis a cometer erros, a acordar de mau humor, a não querer ir trabalhar em algum dia, como acontece com todo mundo. Os médicos também tem o direito de fazer sua pausa no horário de almoço, de tirar férias, licença maternidade e todas essas coisas que todas as outras profissões tem direito.

     Agora alguém me responde: cadê o benefício disso tudo? Como a saúde dos usuários  do SUS será melhorada com essa medida? Sabe aquela velha história de dar uma cesta em troca de um voto? A cesta nem é tão boa e acaba rápido, o voto garante 4 anos de poder. Pois então...

É essa a atitude baixa e desrespeitosa do governo com a população! Agindo de má fé, utilizando-se da pouca instrução, da passividade e da incrível fé que o nosso povo tem!
O governo quer contratar médicos do exterior? Que contrate! Mas contrate profissionais que sejam capazes de revalidar seu diploma e de aprender o idioma que nós falamos para atender de forma decente os pacientes.
O governo quer importar médicos sem o menor critério? Que importe!
Mas pra cuidar da saúde deles e não pra iludir e desrespeitar os pacientes do SUS! Não ouvi dizer que algum desses médicos irá para o Sírio Libanês ou para o Albert Einstein. Afinal, o Governo confia ou não neles?